"Um
relâmpago se produz. E leva o nome de Deleuze. Depois de Nietzsche, o
pensamento é de novo possível. Foucault saúda esse ato de pensar: “Um
dia o século será deleuziano”. Toda a vida de Deleuze: o que é pensar?
Não se trata de adquirir um saber superior, nem de refletir, contemplar,
comunicar. Trata-se de criar, experimentar, viajar. Pensar a vida como
puro acontecimento, acaso ou devir. Dar o que pensar diante da obstrução
e mesmo exclusão do pensamento. Resgatar o pensamento das estruturas e
das leis, da representação e dos modelos, do platonismo e do
hegelianismo, do Homem e dos Universais. Fomentar um pensamento sem
imagem, isto é, dionisíaco. Em luta contra o pensamento reativo,
escravo, ressentido, como vontade de verdade. Contra os aparelhos de
Estado, a Identidade, a Razão, a Moral. Pensamento em intensidade, da
diferença livre, das repetições complexas. Do Eterno Retorno. Nada de
regularidades. Bom-mocismo. Salvacionismo. Senso comum. Bom senso.
Consenso. Produção de misturas loucas, desmesuradas, ardentes. Delírio.
Como os loucos, os lobos, os infantis, os malditos, Gregor, Bartleby, M.
Charlus. No céu estrelado do lance de dados de Zaratustra. Pensamento
extemporâneo. Como um fogo que queima a memória e a história. Esfarela
os controles miméticos instalados na alma e nas essências.
Curta-circuita a mediocridade, a besteira, a mesmidade. Dança e dispara.
Uma peste. Terrorista. Violento. Virótico. Colérico. Cruel. Convulsivo.
Bacante. Insolente. Jubiloso. Afirmativo. Do riso e do risco. Como um
gato se lava das sujeiras do Ser, da Consciência, do Negativo. Sem Ego,
sem Édipo, sem Falta. Órfão, anarquista, ateu. Águia sobre o abismo.
Pensamento-derrame. Dinamite. Escândalo político".
Sandra Mara Corazza,
nov. 2012
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